por Rodrigo Cavalcanti *
O primeiro passo de um programa como o Celebrando a Restauração é o que chamamos de Sair da Negação, ou seja, reconhecermos nossas faltas, sejam elas quais forem. Este passo é fundamental e abre as portas para o autoconhecimento, que ao meu ver é libertador. Pois, nossas faltas por mais que interfiram no nosso dia-a-dia não são a personificação do nosso eu, e passamos a lutar contra um inimigo conhecido.
É natural que alguém que deu este primeiro passo, saiu da negação e prossegue nos passos seguintes do programa, queira compartilha desta libertação com outras pessoas, ajudá-las a sair de suas negações também. Muitas vezes, damos feedback à estas pessoas no afã de que sirva como um espelho que reflita suas próprias falhas, que por vezes, mais nos incomodam do que de fato são adquições. E aí é onde surge a típica frase: "Você precisa sair da negação!!!".
Certa vez ouvi de uma psicóloga a seguinte frase: feedback negativo não solicitado é indesejado, concordo em parte. Quando não solicitamos alguma opinião, e mesmo assim ela é dada, e de forma negativa, o que estamos fazendo é aumentando a barreira para que a pessoa identifique as adquições que precisam ser tratadas. Todavia, se não alertamos sobre os problemas de pessoas próximas de nós, como elas enxergarão seus problemas? Gosto da psicologia infantil quando diz que devemos ensinar o que deve ser feito as crianças, e não prioritariamente o que não deve ser feito. Sejamos positivistas! Ensine o certo, mostre os valores que as pessoas têm e os quais elas precisam buscar, apresente pessoas que venceram suas lutas interiores mais ferozes, e assim, nós pecadores reconheceremos nossas faltas nestes espelhos humanos. Daí a importância testemunhal dos grupos de apoio, este deve ser o espelho, pois toda mudança imposta por fatores externos se torna inócua, precisa ser de dentro.
Uma taça de vinho para um alcoólatra é um passo para o abismo, mas outro que não possui tal adquição pode não interferir em nada em sua vida, assim não podemos rotulá-los como alcoólatras em potencial; não podemos dizer para alguém sair da negação da depressão por está passando por um momento mais prolongado de tristeza e afirma não está em depressão; muito menos afirma que alguém tem compulsão por gastar (ou comprar) por viver no limite de seu orçamento. Se olharmos ao redor veremos muitas coisas em muitas pessoas que nos incomodam, e mesmo assim elas não mudam! Não temos o direito em afirmar que estão na negação, que possuem adquições.
Corremos o sério risco de criarmos rótulos nas pessoas, precisamos diferenciar alhos de bugalhos. Tenho um problema com a procrastinação, a arte de deixar algumas coisas para depois, nem sempre é tudo, mas aquelas coisas que normalmente não são tão agradáveis de fazer, mas necessárias, acabo deixando para depois, depois, depois... Isto já me causou muitos problemas. Mas não posso dizer que os problemas decorrentes da procrastinação são também adquições que eu preciso me libertar, isso seria leviano comigo mesmo. Já fui "acusado" ter inúmeras outras adquições, as quais julgo não ter, estaria eu na negação ou de fato as possuo?! Percebem a linha tênue que existe entre uma consequência das adquições que não necessariamente são adquições, mas muitas vezes deixam marcas dolorosas e profundas nas relações humanas.
Nego estar na negação em muitas coisas. As adquições possuem um caráter aprisionador, faz com que você limite sua vida. Precisamos melhorar sempre como pessoas, forjar nosso caráter, buscar libertação em todos os aspectos para que alcancemos a vida abundante que Jesus Cristo, nosso poder superior, garantiu que teríamos se estivéssemos ligados nele e Ele em nós.
Cristo nos recebeu, levou sobre si todas as nossas dores. Assim, recebamos um ao outro, apoiando um outro. Precisamos lutar contra a tentação de apontarmos para as adquições alheias, esquecendo das nossas próprias. Talvez, seu senso de julgamento seja algo precisa se libertar.
Soli del gloria.
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Rodrigo escreve também no Bússola Cristã
Formado em Tecnologia em Informática
MBA em Gestão Estratégica da Qualidade e da Informação
Graduando em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo.
Um comentário:
Esse texto diz muito do que tenho visto no dia a dia! Excelente contribuição. Obrigada!
Cassandra.
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