sexta-feira, novembro 16


Álcool é a principal droga dos recifenses

 


Estudo feito pela UFPE mostrou que 70% das pessoas que buscam ajuda são dependentes de bebida

 
Marcionila Teixeira
Publicação: 14/11/2012 03:00

Uma droga lícita, comum nas festas familiares, inclusive infantis. Apesar de ser apresentado como uma substância inofensiva, o álcool é o principal vilão para 70% das pessoas que buscaram socorro nos seis Centros de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas (Caps) do Recife entre julho de 2010 e junho de 2011. O mais preocupante é que ele está sempre mal acompanhado. Segundo o estudo, entre os que eram adeptos do álcool, 42% também usavam crack. Outros 43% usavam álcool e maconha. O alerta faz parte de uma pesquisa inédita apresentada pelo Grupo de Estudos sobre Álcool e outras Drogas (Gead), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e partiu de uma consulta feita em 1.957 prontuários.

“O álcool é a droga de preferência em toda população nacional ou internacional e o estudo também comprova isso. O que preocupa é o estímulo ao seu uso feito através da mídia”, analisou Roberta Uchôa, coordenadora do Gead e doutora em sociologia das drogas. Depois da bebida alcoólica vem o uso do tabaco (58% ou 1.133 pessoas analisadas), do crack (44% ou 885 pessoas) e da maconha (43% ou 852 pessoas). “O fato do crack estar na frente da maconha entre os que procuram os Caps não me surpreende porque ele causa efeitos mais devastadores, o que justifica a busca do usuário pelo atendimento”, analisa a professora Roberta Uchôa.

Ao mesmo tempo, como a pessoa dependente do álcool também demora mais um pouco para apresentar complicações pelo uso da substância, fica explicado o porquê de pessoas mais velhas estarem entre as que mais procuram o serviço. Um total de 42% dos homens tinha entre 37 e 59 anos e 45% das mulheres estavam na mesma faixa etária.
 
Roberta Uchôa:
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Dependência

A história do eletricista predial Antônio (nome fictício), 46 anos, se confunde com os relatos feitos nos prontuários pesquisados. Depois de passar pelo Caps, ele está em tratamento há quatro meses em um abrigo da Prefeitura do Recife para se livrar do crack e do álcool. “Acho que a bebida deixa a gente mais fraco para usar outras drogas”, refletiu. Sem emprego por conta da dependência do crack, Antônio foi morar nas ruas do Recife, até saber por um colega que poderia buscar ajuda em um Caps. “Acho que tem pouca informação sobre isso. A gente fica sabendo entre os próprios viciados.” A luta do eletricista é antiga.

 
O gênero masculino, como Antônio, também é a maioria do público que buscou ajuda nos Caps, o que representou 78% dos pacientes atendidos. “Apesar de pesquisas apontarem que as mulheres estão cada vez mais usando álcool e outras drogas, nesse caso isso não ficou expresso. Acho que seria necessário aprofundar esse aspecto mais tarde”, disse Uchôa.


Os resultados da pesquisa Entre pedras e tiros: perfil dos usuários, estratégias de sobrevivência e impacto social do uso do crack serão apresentados à Prefeitura da Recife para que sirvam de base de dados para formulação de políticas públicas. Em uma segunda fase, que deve estar concluída em dezembro, os pesquisadores vão apresentar os resultados qualitativos da pesquisa.

 

 
 

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Abandono do tratamento

Publicação: 14/11/2012 03:00

Estudo apontou que 55% dos dependentes de bebida desistem de seguir em frente



A pesquisa revelou que, apesar da maioria das pessoas (35%) terem procurado os Caps por conta própria, 58% dos dependentes de crack abandonam o tratamento e 55% dos alcoolistas fazem o mesmo. “O fato da pessoa procurar atendimento na maioria desses casos aponta que o internamento compulsório não é um caminho interessante. Ao mesmo tempo, o alto número de abandono também indica que as ações nos Caps precisam melhorar”, destacou Roberta Uchôa. Os Caps do Recife oferecem atendimento diurno aos dependentes, mas neles não é oferecido internamento.

A constatação dos pesquisadores encontra eco no próprio documento. Isso porque o fortalecimento do vínculo familiar, por exemplo, não é tão prioritário como deveria. O tema está presente em apenas 13% dos atendimentos. “Acho que é dado pouco espaço aos demais aspectos, como fortalecimento do vínculo escolar e participação em grupos comunitários”, destacou a pesquisadora.

O estudo mostra, ainda, que 59% dos alcoolistas e 68% dos dependentes de crack usavam essas drogas diariamente. Já o perfil do usuário aponta que 49% são pardos ou pretos, 61% são solteiros, 61% têm o ensino fundamental incompleto, 43% estão em busca de emprego, apenas 6% são atendidos por programas sociais e 86% têm transtorno mental e comportamental.

Fonte:


DP - VIDA URBANA

 
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